Nesta terça-feira, 23 de abril, Sidrônio Alves irá a júri popular pelo assassinato de Neurice Torres, conhecida como Dona Neura, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) em Goiás. O julgamento ocorre quase dois anos depois do feminicídio. Alves será julgado em Minaçu, extremo norte de Goiás.

Neura foi brutalmente assassinada pelo ex-companheiro no assentamento rural Dom Roriz, em Minaçu, onde morava. De acordo com a Polícia Civil, ela foi encontrada morta com a cabeça afundada numa caixa d’água e seminua.

Segundo Amélia Franz, da direção estadual do MST em Goiás, o Movimento exige a condenação de Sidrônio Alves. “Nós, enquanto movimento social, deixamos claro que não permitiremos que a impunidade se faça presente e faremos todos os esforços para alcançarmos a justiça por Dona Neura”. De acordo com Franz, o MST planeja um ato em denúncia ao feminicídio em Minaçu, durante o julgamento.

Segundo o advogado que acompanha o caso, Allan Hanehmann Ferreira, “a expectativa dessa acusação é que a gente realize um julgamento limpo, que traga toda a verdade, que colham os depoimentos das testemunhas, os quais confirmam, com todos os indícios e provas, a autoria do homicídio realizado por Sidronio”.

Conflito no campo

Em 2023, o Brasil registrou número recorde de 2.203 conflitos no campo, que afetou a vida de 950.847 pessoas. Embora ambos os números tenham registrado alta, na comparação com o ano anterior, a área em disputa foi reduzida em 26,8%, sendo agora de cerca de 59,4 mil hectares. Os dados são da última edição do relatório anual da Comissão Pastoral da Terra (CPT), divulgada nesta segunda-feira (22), em Brasília.

As regiões do país que concentraram mais conflitos foram o Norte e o Nordeste, com 810 e 665 ocorrências, respectivamente. Na sequência, vêm o Centro-Oeste (353), o Sudeste (207) e o Sul (168).

Em 2022, foram notificados 2.050 conflitos no campo, em todo o país. Ao todo, 923.556 pessoas foram impactadas pelos embates travados naquele ano.

Conforme a CPT, a terra esteve mais uma vez no centro da maior parte dos conflitos no campo. Somente em 2023, foram 1.724 disputas por terra, correspondentes a 78,2% do total registrado, que inclui também conflitos por água (225 ocorrências) e trabalho escravo contemporâneo na zona rural (251 ocorrências), equivalentes a 10,2% e 11,3%. No ano passado, verificou-se crescimento de 7,6% nas ocorrências relativas à terra, que interferiram no universo de 187.307 famílias.