O Brasil enfrenta um preocupante aumento nos casos de neonazismo, especialmente em anos eleitorais, revelam dados alarmantes levantados pela organização não governamental (ONG) Safernet. Os dados emergem em meio às observações do integrante do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Carlos Nicodemos, que lidera uma comitiva, instaurada pelo colegiado, para investigar o crescimento das células neonazistas pelo país.

Nicodemos ressalta a ausência de uma política nacional específica para lidar com essa ameaça crescente. Em entrevista à Agência Brasil, ele destaca a necessidade de repensar os mecanismos de controle, não apenas pelo Poder Judiciário, mas também pelo Poder Executivo, abrangendo áreas como educação e cultura.

Os números apresentados pelo CNDH à Organização das Nações Unidas (ONU) são preocupantes: um aumento de 270,6% nas células de grupos neonazistas de janeiro de 2019 a maio de 2021, disseminando-se por todas as regiões do país. No início de 2022, o relatório indicava a existência de mais de 530 núcleos extremistas, agregando até 10 mil pessoas.

A Mídia Ninja publicou que Blumenau, cidade com 365 mil habitantes, abriga 63 células neonazistas, número que chama a atenção quando comparado aos 96 grupos identificados na capital paulista, com 12 milhões de moradores.

Aumento de 120% nas denúncias

Os dados da Safernet corroboram essa tendência, com um aumento de 120% nas denúncias de neonazismo no primeiro semestre de 2022 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em 2020, as denúncias aumentaram impressionantes 740,7%.

Para especialistas como Odilon Caldeira Neto, coordenador do Observatório da Extrema-Direita e professor de história contemporânea da Universidade Federal de Juiz de Fora, o neonazismo no Brasil é um fenômeno complexo e difuso, que vai além da mera adoção da suástica como símbolo.

A disseminação online desempenha um papel crucial nesse processo, com a falta de regulamentação online favorecendo a propagação de discursos de ódio e células neonazistas. Michele Prado, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), destaca a necessidade de critérios sólidos para classificar esses grupos e combatê-los eficazmente.

Diante desse cenário alarmante, o CNDH busca ações concretas, incluindo a realização de comitivas pelo país e a solicitação de uma audiência pública à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), na esperança de traçar estratégias eficazes para conter essa crescente ameaça neonazista no Brasil.

“Está colocado um desafio de pensar uma política nacional de enfrentamento a essa propagação dos atos neonazistas, que passa por um aprimoramento do sistema de Justiça, de segurança pública, além de estabelecer ações no campo da educação e direitos humanos que façam a disputa da narrativa de violência”, conclui Carlos Nicodemos.