A crise climática que atinge o Rio Grande do Sul alcançou a triste marca de 100 mortes na tarde desta quarta-feira (8). A situação se agrava com o registro de pelo menos 128 pessoas desaparecidas em todo o território gaúcho. Conforme o último boletim divulgado nesta quarta-feira (8), aproximadamente 1,45 milhão de pessoas foram afetadas pelas consequências das enchentes e enxurradas, atingindo 417 municípios.

Atualmente, são 163.720 desalojados, que buscaram abrigo temporário na residência de familiares ou amigos, enquanto 66.761 pessoas foram forçadas a se refugiar em abrigos públicos municipais após ficarem desabrigadas, sem ter para onde ir. Além disso, cerca de 372 pessoas ficaram feridas em decorrência dos eventos climáticos.

As previsões meteorológicas mantêm a preocupação, com especialistas indicando a possibilidade de mais chuvas intensas e fortes rajadas de vento atingirem parte do estado a partir de hoje.

O Centro de Hidrografia da Marinha alertou para a faixa litorânea entre Chuí, no Rio Grande do Sul, e Laguna, em Santa Catarina, onde podem ocorrer ventos de até 88 quilômetros por hora devido à passagem de uma frente fria.

Foto: Transcentrar

Diante desse cenário crítico, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul emitiu um alerta para que pessoas resgatadas das áreas atingidas pelas chuvas a não retornarem para suas casas devido à instabilidade do solo, alagamentos e risco iminente de deslizamentos.

Negligência e negacionismo climático

A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) aponta para décadas de alertas científicos sobre os efeitos do aquecimento global e critica ações políticas que fragilizam estruturas de serviços públicos, destacando que uma máquina pública plenamente funcional poderia mitigar os estragos de forma mais eficiente. “O que está ocorrendo no RS é a combinação de um evento climático extremo com negligência e negacionismo climático”.

Para a parlamentar, “ao longo dos anos, principalmente no governo Bolsonaro, a Câmara vem aprovando a toque de caixa inúmeros projetos antiambientais, sendo que, há décadas, a ciência alerta para os efeitos do aquecimento global. Além disso, também estamos vendo os efeitos da política neoliberal, que destrói as estruturas do serviços públicos e que agora estão sendo fundamentais. Se a máquina pública estivesse funcionando plenamente, estaria mitigando os estragos de forma muito mais eficiente”, afirmou a deputada para Mídia Ninja.

Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados

O renomado climatologista brasileiro, Carlos Nobre, alerta que as tragédias climáticas estão se desenrolando no Brasil mais cedo do que o previsto. Em uma entrevista concedida ao Deutsche Welle Brasil, Nobre destaca que eventos extremos como enchentes e secas recorrentes, previstos para ocorrerem por volta de 2030 ou 2040 segundo previsões anteriores do IPCC, já são uma realidade.

O recorde de aquecimento global registrado em 2023, com 1,5°C a mais que no período pré-industrial, acelera esses eventos. Este ano, o aquecimento continua, com a temperatura média global em fevereiro e março de 2024 já batendo 1,56°C mais quente, estabelecendo um novo recorde histórico.

Nobre destaca a relação direta entre o aumento da temperatura média do planeta e a intensificação desses fenômenos, evidenciada pela ocorrência de chuvas intensas e prolongadas.

Para lidar com esses desafios, Nobre enfatiza a importância de acelerar a implantação de soluções para adaptação aos extremos climáticos e melhorar a capacidade de prever tais eventos. Ele destaca a necessidade de investimentos em infraestrutura resiliente e políticas de adaptação às mudanças climáticas. O que se torna um desafio, já que o Congresso Nacional flexibilizou medidas de proteção ambiental.