Cansadas e exauridas, passamos por mais um dia de luta da/do trabalhador/a sem muitos motivos para celebração. Embora tenha apresentado uma melhora, a desigualdade de gênero persiste sem indicativos no horizonte de que haverá equidade nos próximos anos. Os números do IBGE/Pnad Contínua mostram que a participação feminina no mercado de trabalho ainda não alcançou o percentual anterior à pandemia: chegou a 52,7%, índice inferior aos 54,3% registrados antes. Os números apontam que de cada 10 mulheres em idade economicamente ativa, apenas cinco estão trabalhando ou em busca de colocação no mercado.

Vistas como responsáveis exclusivas pelo trabalho do cuidado, da casa, dos filhos, de familiares enfermos, estas mulheres são preteridas ou relegadas às atividades mais precarizadas quando tentam voltar ao mercado do trabalho, subordinadas a encarar a romantização de parte da sociedade que prefere chamar de “guerreira” a mãe solo que pedala horas a fio fazendo entregas com sua cria na garupa da bicicleta.

É duro notar que as desigualdades persistem por todas as áreas, ainda que as mulheres estudem em média quase três anos a mais que os homens, ainda chegam menos aos cargos de gerência ou direção e têm salários menores. Mas é quando entramos no recorte de cor/raça que o abismo se revela ainda mais profundo, já que mulheres negras recebem cerca de 68% do salário de homens brancos e 66,7% da remuneração de mulheres não negras, e são as primeiras a serem demitidas quando as crises chegam.

Essa precarização mostra sua face também nos serviços domésticos, que são executados por 92% de mulheres, sendo 65% delas negras. Essas e outras mulheres, quando deixam a atividade remunerada, seguem cuidando das suas próprias casas.

Quando estive na Presidência da Comissão de Trabalho da Alerj, entre 2019 e janeiro de 2023, não foram poucas as audiências e recebimento de denúncias de cargas horárias exaustivas, falta de equipamentos de proteção, atraso salariais e dispensa sem os direitos, o que confirma a submissão das mulheres à dureza do mercado de trabalho.

Excessos, no mercado e em casa, colaboram para que as mulheres estejam sempre exaustas, física e mentalmente, colocando em xeque o uso de suas potencialidades e capacidades. Estamos na luta por melhores condições de trabalho e renda há muitos anos, e mesmo cansadas de não ter direito à festa, apenas à luta, lutamos. Existe necessidade de um pacto urgente de toda a sociedade para mudar esse quadro. Em todo o país, o trabalho das mulheres sustenta o cotidiano.